segunda-feira, 7 de maio de 2012

Onegaishimasu

ONEGAISHIMASU ("Por favor, pratique comigo" ou "Desejo bons resultados de nossa aproximação")

          Durante o treinamento, uma expressão honrosa. Uma espécie de pedido de empréstimo, do conhecimento, da experiência, do corpo do companheiro para que possamos praticar e aprender a técnica. Um sentimento de respeito que cada vez mais se distancia das escolas de luta.

          Quando tomamos algo emprestado. Qual o sentimento depositamos? Aquilo que não nos pertence, se a nós confiado, independente do valor material ou emocional passa a ser uma espécie de tesouro. Então, quando tomamos este tesouro sob nosso cuidado, faremos "uso" com o máximo respeito para que este seja devolvido ao dono da mesma forma, senão melhor do que quando este passou a nossa tutela.

           Quando solicitamos o auxílio de um companheiro de treino para praticar em conjunto. O companheiro deve ser visto como este tesouro, pois tem imensurável valor. Pois este está colocando sob condição insalubre sua integridade física. Para que possamos praticar uma determinada técnica. Aprendemos através da execução técnica, assim como o companheiro estará aprendendo a recebê-la. Um crescimento mútuo.

          Porém, nesse competitivo meio esportivo. Por quê muitos vêem o companheiro de treinamento como um rival? Mesmo durante o treinamento há uma espécie de competição entre as partes. Mesmo nas tarefas mais simples do treinamento, tenho observado que é aplicada a mesma intensidade de força e espírito de um embate. Como se o maior objetivo naquele momento não fosse o crescimento, mas o intuito de provar quem é mais forte.

          Como se não fosse um companheiro de equipe a sua frente. Como se fosse um saco de pancadas. Como se fosse o pior dos inimigos.

          Parece que alguns sentem um prazer "orgásmico" de ver o companheiro retorcer seu rosto em dor. Sem peso na consciência de saber que o companheiro tem saúde a preservar, que vai precisar trabalhar no outro dia, tem uma família a zelar. Uma constante auto afirmação que resulta numa busca egoísta por crescimento. O ego que jamais enfraquece. Não existe ética de equipe.

          Não está clara a direrença entre treinamento e competição.
          Uma escola de lutas marciais, deveria ser um ambiente que deixasse claro que dentro de suas dependências é praticado o exercício para tornar o praticante um ser humano melhor na sociedade. Um bom atleta, com ótimo caráter. Porém o que tenho observado, é que ocorre o inverso. As escolas tem treinado pessoas para exibir superioridade física, mas com inferioridade intelectual. Deixando os alunos mal conduzidos, fazendo a esmo o que acham melhor.

          Entristece e desmotiva presenciar essas atitudes.

OSS



9 comentários:

Armando Inocentes disse...

Se num "dojo" - chamemos-lhe ginásio ou academia - "não está clara a direrença entre treinamento e competição" - então algo vai mal, muito mal! E a primeira resonsabilidade será de quem está à frente desse "dojo"... Poderá ter competências técnicas mas não tem competências pedagógicas! Se há colegas com laivos de "sadismo" durante o treino, então são mal formados, e o responsável só pode é convidá-los a sair - a não ser que este seja como eles! Então o melhor é sairmos nós...

Chamar a um ginásio ou academia "uma escola de lutas marciais" é o que proporciona exatamente esse clima.

Continuamos a falar de arte marcial - quando não nos estamos a preparar para a guerra - quando o que pretendemos é tentar executar algo de uma forma bela e perfeita sentindo-nos realizados com o esforço (o caminho) e os resultados alcançados, ou quando pretendemos automatizar algo que seja eficaz no caso de ter de vir a ser usado em competição ou em defesa da nossa integridade física... e claro que o "eficaz" nestas duas situações é diferente!

Adversário não é sinónimo de inimigo e competição não quer dizer o mesmo que guerra!

Abraço Lara San!

Eduardo Lara disse...

OSS Inocentes Sensei!

Sinceramente estou sem saber o que fazer nessa situação. Não sei se chego ao professor e falo que essa situação não está me agradando. Ou saio novamente em busca.
Fiquei extremamente feliz em saber que meu antigo mestre estava querendo me acolher sob sua tutela. Mas o que encontro no meu retorno é isso que desabafei acima em forma de um texto.
O que devo fazer Sensei?

Um grande abraço!

Amanda Alcantara - Jornalista, Karateka e Estudante de Educação Física disse...

Diálogo... sempre diálogo em primeiro lugar... Se não resolver vá em busca da sua busca! Eu não sou ninguém para opinar, mas digo-lhe o que faria em seu lugar sem dúvidas ou medos eu faria exatamente isso!

Eduardo Lara disse...

Obrigado pelo conselho Amanda san. Estou me sentindo numa encruzilhada, porque retornei agora à escola.
Meu professor assumiu essa turma há pouco tempo. Antes eles eram ministrados por outra pessoa. Estão cheios de vícios. E estão espelhando-se em péssimos exemplos passados.
Me sinto desconfortável em ter que puxar a orelha do próprio orientador. Ainda mais na minha situação de estranho no ninho.

OSS!!!

Amanda Alcantara - Jornalista, Karateka e Estudante de Educação Física disse...

Você mesmo disse em uma das suas postagens (não recordo agora qual delas) que a prática era diferente da que você estava acostumado até então. Voltar talvez queira lhe mostrar algo: COM SUA EXPERIÊNCIA VOCÊ PODE AJUDAR, MAS SÓ PODE AJUDAR QUEM QUER SER AJUDADO. Converse e tente fazer a diferença com o que um dia você me disse, ASHI BUMI (acho que é isso... lembra-se?)Você pode fazer a diferença, mas longe da ideia de 'ser um estranho no ninho' pois você não é...
Se, mesmo assim, nada der certo e você achar que isso também não é exatamente o que quer... vá em busca do que acredita ser o melhor para você. Mas nunca se esqueça que o Caminho que você escolheu, além de não ter mais volta, é simplesmente abarrotado de desafios... desafios estes que ou você fica e enfrenta ou se afasta e deixa tudo como está...
Você não vai puxar a orelha de ninguém... você irá apontar-lhe os defeitos que ele tem como todo ser humano tem. Se ele não aceitar, você tem suas opções a fazer!

OSS, Eduardo!

tyronew disse...

Eduardo Lara.
Sou o Tyrone Fox do YR de artes marciais (Top 1)
Esse seu questionamento é bastante cabível, mas temos que ver qual arte marcial estamos praticando. Existem artes marciais que possuem competições em suas atividades, como é o caso do Jiu Jitsu, Judo, Taekwondo, Kung Fu (alguns estilos), Karatê etc.
Temos também aquelas artes marciais onde não há competições como o Krav Magá, Aikidô, Shitai Do, Hapkido etc.
Tudo depende do objetivo da arte marcial.
Obviamente, o que faltam nas academias é a parte mais teórica e filosófica de sua arte marcial, entretanto com o modismo de UFC e afins, as pessoas estão desprezando esse lado. É uma pena.

Abraços

Eduardo Lara disse...

Tyrone Fox:

Seja bem vindo ao blog. Para mim é uma honra sua participação aqui nesse espaço de estudos.
Concordo com você, com relação ao objetivo distinto dos estilos que se dividem em Arte e Desporto.
No desporto, como destaquei neste post. Muitos praticantes não conseguem mais delimitar o treinamento com a competição. Assim acontecem casos deploráveis e exaltações. Como a questão publicada no fórum do YR, onde nosso amigo supostamente havia quebrado so dentes do companheiro de treinamento.
Minha pergunta a jovens com essa mentalidade: -Soma algo ao curriculum de atleta, machucar um companheiro de treino?

Essa foi a questão que almejei deixar na mente dos praticantes de desporto de contato que venham a visitar o blog.

Um grande abraço!

OSS!

Kachaço disse...

Treinei Judô muitos anos e resolvi experimentar o Jiu-Jitsu, estou achando fascinante mas tb fiquei um pouco desapontado com a pouca ou nenhuma importância que o Jiu-Jitsu confere (acho que no geral) à filosofia, a teoria, ao respeito entre Mestre e Aluno, etc. Por ser o Brazilian Jiu-Jitsu acho que a ocidentalização dos costumes retirou da arte marcial o que ela tinha de mais bonito, que é a filosofia oriental, restando pouco daquilo que foi, como o OSS, que no Judô sempre pronunciávamos onegai shimassu...

Kachaço disse...

Treinei Judô muitos anos e resolvi experimentar o Jiu-Jitsu, estou achando fascinante mas tb fiquei um pouco desapontado com a pouca ou nenhuma importância que o Jiu-Jitsu confere (acho que no geral) à filosofia, a teoria, ao respeito entre Mestre e Aluno, etc. Por ser o Brazilian Jiu-Jitsu acho que a ocidentalização dos costumes retirou da arte marcial o que ela tinha de mais bonito, que é a filosofia oriental, restando pouco daquilo que foi, como o OSS, que no Judô sempre pronunciávamos onegai shimassu...